dimanche 30 juin 2019

Bryan Ferry, o dandy decadente virou o crooner da família toda.

 

Falar de Bryan Ferry é falar de duas “estrelas” quase antinómicas. É também reabrir a discussão sobre este movimento, o Glam Rock, que, apesar de ter tido uma importância muito mais forte que lhe foi concedida, foi sempre observado com algum desdém pela imprensa inglesa, por terem incluído grupos muito populares durante três ou quatro anos, mas que não foram de grande interesse artístico como Slade, Mud, Sweet, ou Gary Glitter. Porém terão uma influência sobre, talvez, a primeira verdadeira banda punk americana, The New York Dolls (antes dos Ramones) esta banda colorida, um dos primeiros conjunto punk rock nascido em 1971, 6 anos antes dos Sex Pistols ingleses. 


As duas “personalidades” que formaram um homem só, era Bryan Ferry, que fez e desfez a vários momentos a banda Roxy Music de 1972 até 2011, esse conjunto revolucionário concebido em 1970. Além de Ferry, tinha Phil Manzarenna na guitarra, Andy Mc Kay no saxofone, ou Brian Eno nos barulhinhos incontroláveis dos pré-sintetizadores. Esses intelectuais, todos estudantes de Arte Plástica em Newcastle, estavam decididos a colocar a exuberância de seus ambientes visuais ao serviço de seus talentos musicais (especialmente os do guitarrista e do saxofonista). Apesar dos “óculos-mosca” de Manzarenna, Bryan Ferry e Brian Eno chamavam a atenção pela suas roupas extra kitch, misturando purpurina, maquiagem, gel excessivo no cabelo e casaco de pele falsa de tigre. 


Eno, que sempre se qualificou como um «não-músico», manipulava suas maquinas, “proto” sintetizadores da cena britânica, manipulando-os com uma boa dose de improvisação, bem na mente do futuro produtor que adorava manter e destacar os erros duma gravação. Não sei se sabia dos sons que iam nascer das suas máquinas, dando-lhes quase uma vida própria independente que ele tentava dominar como um cientista louco. O Bryan Ferry, do seu lado, abusava duma atitude ambíguo, mas que não jogava com a atitude sexual. Havia nele Jeckill e Hide. O compositor com cara de carniceiro, e sua voz expressiva característica, apresentava uma espécie de desdém como bom estudante de arte britânica praticando uma música de vanguarda então nunca ouvida antes. 



A sua voz passeava em lamentações hipnóticas (In every dream home an heartache), ou em rock nervoso com sons novos, animados por uma euforia epiléptica como em Streetlife, Edition of you ou o primeiro hino decadente do glam, Do the strand. Muito rapidamente, em 1973, em paralelo com a carreira do Roxy, o Bryan sentiu a necessidade de criar seu solitário mundo musical, e escapar do gênio intruso do Brian Eno. Ao contrário de outros grupos, estes dois líderes não conduziram a uma competição construtiva, porque era feita de égo e não de música, e especialmente sobre as visões musicais para as quais ambos os homens quiseram ir. 


Brian Eno foi embora conduzir uma carreira solo frutífera, longa demais para ser evocada aqui. E com o vento da liberdade, Ferry se permitiu usar o nome do Roxy, que afinal, foi sempre sua criação, sendo o principal compositor e cantor. Mas ele lançou discos com seu próprio nome que lhe dava a oportunidade de tentar muitos projetos à partir de 1973, como os vários álbuns com canções de outros compositores, e isto até muito recentemente. E isso foi o maior ponto fraco de Ferry, que nunca conseguiu atingir ou igualar as versões originais. Fora Jalous Guy (John Lennon), aconselho de voz baixa de ficar afastados desses discos, que não trazem nada, nem nas canções dos Beatles, ou de crooners dos anos 50. Uma primeira dissolução de Roxy Music aconteceu em 1992, e o classudo inglês se mudou em vocalista mais “mainstream”, principalmente a partir de “Avalon” (1982), seu disco mais vendido até hoje. Depois ele reformará o grupo no inicio de 2001 até o fim definitivo em 2011. 


Os álbuns de Roxy de 1975 e produçoes de Ferry, lhe trouxe uma fama e uma popularidade mundial, alguns ditados pelas demonstrações extrovertidas dos anos 1972-1974 (Love is a drug, Let’s stick together), mas rapidamente ele voltou a adotar um timbre natural com essa atitude que o compositor expressou em fase como nas interpretações dele. Tendo conduzido os primeiros três álbuns do grupo aos lugares mais altos dos “charts” inglêses, foram depois 10 singles que Roxy Music colocou no Topo 10 inglês, com "Virgínia Plain", "Street life", “Love is the drug” (primeiro grande sucesso significativo nos Estados Unidos ), "Dance away", "Angel eyes", "Over you", "Oh Yeah", "Jealous guy", "Avalon", e "More than this." De 1982, Ferry foi transformado em compositor de estouro mais fácil de acesso, mas sempre com esse toque elegante britânico que era agora a marca principal da personalidade musical dele. Há alguns dias, assisti a uma entrevista recente do cantor e fiquei impressionado ao ouvir o timbre da sua voz que me causou uma estranha impressão, enquanto evocava, entretido, os seus três primeiros álbuns com a banda. Ele mal era audível, e era como ouvir um homem idoso que se lembrava do que ele tinha realizado há 50 anos atrás, quando era cantor de rock. Mas Bryan Ferry é mais que nunca na atualidade e está num ano atarefado, durante o qual fará todas as salas míticas do mundo Foi então com uma ligeira apreensão (depois da entrevista) que vi o seu espectáculo no Palácio das Belas-Artes de Bruxelas, a 15 de Junho, na esperança de não assistir à caricatura de um crooner ultrapassado pelas suas melodias caóticas da época Roxy Music. 


Sim, o cantor elegante perdeu de sua voz, mas pode-se supor que um crooner trabalha de forma menos intensa suas cordas vocais, e é vítima talvez das fraquezas a partir de uma certa idade. Há muito tempo que o objetivo de Bryan Ferry já não é de ser a figura do Art-Rock inglês, mas de se dar o prazer de interpretar, além das suas canções, aquelas dos seus ídolos como, por exemplo, de Bob Dylan num dos seus últimos álbuns publicados em 2007. Esse disco sim, um casamento improvável entre o mundo musical de Dylan e o toque introvertido, agora, de Bryan Ferry de interpretá-lo, faz deste disco um sucesso inesperado. Se excluirmos, portanto, um poder vocal enfraquecido muito perceptível, o espetáculo apresentou-se como a representação de um homem único no cenário pop mundial, autor de uma música que virou radiofónica, mas sempre elegante (as vezes ascetizado demais) como no álbum "Boys and girls" que conquistou todos os públicos, desde os pais até às crianças. E na verdade, não tentem ver nestas palavras um sentido pejorativo. Precisamos de artista de talento cujo percurso mostra uma evolução que merece ser debatida. 



No palco, como seria de esperar, a estrela internacional é banhado pelo sutil jogo de luz sobre elementos de um cenário simples, apoiado por uma equipa de músicos irrepreensíveis, entre os quais dois guitarristas excelentes, Chris Spedding e Tom Vanstiphout, quando se tratava de instalar o clima etéreo de More than this ou Avalon; uma jovem saxofonista com um figurino parisiense, Jorja Chalmers, que não traía o jogo de Andy Mc Kay na sublime peça que abriu o show: In every dream home an heartache; uma bateria (Luke Bullen) emoldurado com painéis plexi que bateu forte apoiado por um baixista brilhante (Jerry Mehan); dois cantores sólidos, Tawna Velha e Fonzi Thornton; uma violinista, Marina Moore, que reforçava a sonoridade decadente dos primeiros títulos de Roxy, e sobretudo – o que constituía a surpresa nesta sala do Palácio das Belas-Artes que conheço bem, e que é mais concebida para concertos clássicos ou acústicos -, um som duma pureza raramente ouvida num concerto pop neste local. 

Devemos confessar que o mérito deste cavalheiro, menos fogoso, mas feliz (ele ainda tem 74 anos de idade que ele carrega bem) não procurou escapar das canções de seu início, que formaram quase a metade do repertório do show que estou colocando a você abaixo. Sobretudo, ele conseguiu manter um ritmo mantido sem tempo fraco, o que era o maior perigo. Quanto a um breve estudo um pouco incomum do glam rock, um assunto mais complexo do que parece, merecerá um lugar, sim, mas não se preocupem que eu estou fervendo de evoca-lo. 





Na conclusão do show, fiquei pessoalmente ciente de ter visto o ultimo dandy duma classe definitiva, pouco falador, mas com uma verdadeira emoção no olhar e nos gestos dirigidos ao público belga, conhecido por ser um dos mais exigentes da Europa, mas que sabe reconhecer os talentos sinceros e apreciar a importância dum momento, ou seja, o fato de se encontrar diante de um artista singular e importante da música popular mundial do século XX, que levou a música pop e o rock ao nível de uma arte que lhe pertence 

 Playlist deste sábado 15 de junho de 2019 



In every dream home an heartache 
Kiss and tell 
Édition of you 
The bogus man 
Virginia Plan 
Love is the drug 
Jealous Guy 
More than this 
Both ends burning 
Avalon 
Slave To love 
Simples twist of fate 
Just like Tom thumbs blues 
Boys and girls 
Danse away 
Don't stop the dance Let's stick together 
Slave To love 
Street life Take a chance with me







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