dimanche 29 septembre 2019

A Margem fecham uma obra emocional e intelectual pouco atingida




Adriana Calcanhatto aborda "a margem" sem deixar o ouvinte respirar e preparar-se com esta corcunda para os ruídos modernos de Rafael Rocha, e para a melodia surpreendente. Chegando tarde em São Paulo, eu aprendi que este álbum que vê a cantora nadar, ou afogar-se no meio de lata e lixo seria uma combinação de novas criações, e de títulos rejeitadas de Maritmo (1998) e Maré (2008) as duas vertentes deste triptico marítimo. Uma água suja pelo homem, eterno culpado de danos naturais que Calcanhotto denuncia. 
Mas, não me apetece deter-me sobre os textos, por muito importantes que sejam, pois já estou cansado de falar do artista intelectual, porque já Os Ilhéus (Wisnik/Cicero) e Dessa vez revela a beleza clássica, mas que transmite emoções às ondas de choque sempre esplêndidas. Um esplendor que eleva a canção Tua, dada a Betânia, cantada com um timbre no limite da sensibilidade, que iguala a soberba interpretação da Baiana. 
Encontra-se uma canção surpreendentemente deixada de lado composta por Pericles Cavalcanti, Marés- o principe das marés. Era pra ser, outra canção dada a Bethania em 2016, que afirma-se melhor reverenciada pelo som cristalino das guitarras portuguesas. 



A surpresa que me atinge mais, além de tudo (e é devido às diferenças de épocas das canções), são as melodias que soam como clássicos do melhor Robero Carlos e a inevitável modernidade que veste Ogunté, e a digitalização, como um rap de um novo género (que poderia muito bem dar ideias a Fernanda Abreu), sem que a homogeneidade do disco seja atingida. Só Adriana era capaz de tais audácia, impondo-se sem pudor. 

Então eu fico ou vou. Ou me mudo para Coimbra entre os batinos pretos estudantinos. A trilogia ficará gravada entre as obras mais comoventes da cantora. Comovente e, sim, de uma inteligência que só a ela pertence

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