Minha primeira capa, orgulho duma semana....
Este post foi escrito em dezembro de 2016, para o que era para ser o primeiro deste blog. Várias razões me obrigaram a adiar sua publicação, mas não tive que mudar muito seu conteúdo. Eis aqui...
"Após o desaparecimento de nomes de grande porte ligados à música brasileira e mundial, como o 5° Beatles, Georges Martins -1926/2016- (que eu tinha entrevistado em 1987), o brilhante percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016); o jornalista e criador do programa de televisão, Fernando Faro - foto ao lado - (1927-2016) – que teve uma importância essencial como arquivista da música brasileira, com seu programa inovador, “Ensaio” de 1969 até os dias de hoje; Billy Paul (1934 – 2016), que, em 1972, tinha feito um cover sensacional de Your Song (Elton John/ Taubkin), lado B de Me and Mrs Jones, 2016 nos deixará um gosto amargo. E como se não bastasse, o destino, resolveu tirar o último fôlego de George Michael (1963-2016), em 25 de dezembro, dia de Natal, o artista tinha cantado Last Christmas (1984), o maior sucesso que ele tinha composto para Wham! Alguém falou da palavra “cinismo”? Não sei se 2016 foi pior quanto ao número de artistas falecidos, mas a gente se lembrará da importância dos artistas que nos deixaram.
George Martins, o 5° Beatle
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Fernando Faro |
O compositor de “Heroes” conheceu seu apogeu nos anos 70, e foi a base de vários movimentos musicais que se seguiram. Enquanto que o homem de Mineápolis, vestido de roxo, deu o melhor da sua obra nos anos 80, encadeando álbuns que levaram a soul e o funk americano por caminhos inexplorados, com criatividade e provocações.
Eu entro aqui humildemente na parte mais pessoal para dizer que, entre estas duas décadas, 70 e 80, comecei a escrever profissionalmente para o “Télémoustique” na Bélgica, e seu caderno musical que, então, era uma referência em meu país, mas também reconhecido na Inglaterra, pois o público belga era conhecido por ter um bom parâmetro de julgamento, por estar sempre bastante ligado com o que se passava de novo do outro lado da Mancha e do oceano Atlântico. Os acervos das televisões belgas (RTB/ BRT), possuem imagens incríveis sobre shows de Jimmy Hendrix, The Who, Led Zeppelin, The Cream, e outros, gravadas nos estúdios belgas (Alô, alô, Youtube!!). Para a revista, eu assinava Daniel Ash, para ajudar os revisores (não tinha internet!), antes de saber, um pouco depois, que era o nome do guitarrista do excelente grupo new wave « post punk », Bauhaus Isso foi por volta de 1984, oito anos antes de eu mergulhar nas músicas brasileiras.
E se eu me permito esta intromissão pessoal, ao pensar na morte destas duas figuras emblemáticas, é porque tanto Bowie quanto Prince tiveram uma importância crucial no meu próprio trabalho fazendo com que eu continue sempre a escrever sobre o universo musical ainda nos dias de hoje. Só que foi um terceiro, Antônio Carlos Jobim, o responsável pelo desespero da minha família, quando fechei a última mala, com destino ao Rio de Janeiro.
Billy Paul
George Michael
Depois do falecimento do jornalista musical Bert Bertrand, em 1983, reputado na Bélgica, a redação do « Moustique » decidira se separar da sua equipe de 5 jornalistas desta seção, deixando sozinho, Pascal Stevens, um dos mais antigos, como redator chefe da parte de cinema/música. Este outro excelente profissional me ensinou muito no que diz respeito a redação eficaz de um artigo na imprensa escrita.
Com o objetivo de dar uma repaginada na equipe, botaram um anúncio na revista, avisando para quem estivesse interessado a participar do novo time musical de mandar um artigo sobre um artista, sem nos darem maiores detalhes. Tendo certeza de não ser escolhido, e me afirmando como um fã compulsivo de Bowie, que acrescentava a arte ao padrão definitivo do formato da canção pop/ rock dos Beatles (que são insuperáveis até hoje), eu enviei uma espécie de fábula surrealista que fazia com que os personagens, que o inglês tinha encarnado entre os anos 70 e 80, se encontrassem. Eu meio que esqueci um pouco da história, e este é um dos raros textos que não guardei, infelizmente...
Sem dúvida, a originalidade do texto deve ter agradado a revista, pois eu não escrevia especialmente bem, e não estou falando da minha ortografia em francês na época. Em seguida, escrevi todos os artigos que diziam respeito a Bowie durante 6 anos, mas de 83 a 89, foi sua pior década produtiva. Quanto a Prince, que eu já gostava desde a bomba sacudida que era o single Controversy (1980), ele foi a minha primeira capa da revista que teve uma tiragem de 150.000 exemplares para um país de 9 milhões de habitantes, o que me deixou com um certo orgulho não dissimulado para um garoto com menos de 20 anos, durante uma semana. Os jornais, antes da internet, tinham uma tiragem que não dá nem para comparar com as de hoje, e o jornalista era um formador de opinião muito mais importante do que agora. Para o bem e para o mal.
Esse artigo de 6 páginas dava continuidade à projeção da imprensa, antes da exibição do filme nas salas, de « Purple Rain », espécie de biografia musicada de Prince, na qual me pediram para acrescentar um retrato do rapazinho de Mineápolis, grande amador de mulheres, e multi-instrumentista talentoso. Mas era também a divulgação dum novo som, justamente aquele de Mineápolis, que Prince revelou com seu séquito. Os mais velhos se lembrarão de Vanity, Appolonia 6, Sheila E., The Bangles, The Time ou ainda Wendy e Lisa, musicistas que o acompanhavam, e que se lançaram, mais tarde, em carreiras individuais.
A partir de “Parade” (88) a inspiração musical não chegou mais, na verdade, à altura dos discos anteriores, e o artista, super compulsivo, gravou ainda 30 discos (!) em 25 anos, com, muito raramente um hit significativo (Diamond and pearls e Nothing compares to U cantado por Sinead O Connor, foi um desses raros casos). Mas atrás disso, tinha uma guerra feroz com as gravadoras. Os jornalistas que continuaram a segui-lo notaram um retorno à inspiração em “Musicology”, e “3121” de 2004 e 2006. A partir dessas datas, é possível ouvir quase tudo o que ele lançou, e tem pouca coisa para deixar de lado. Os discos estão acima da maioria das produções do Gênero, e seu Gênio, nunca sumiu...
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