jeudi 10 octobre 2019

Uma pequena reflexão após o post anterior…



 O Box set vinyl "The Cure 40 live"

Para fazer concorrência aos vinis de época, e para tentar aumentar a percentagem de venda do antigo meio e dar seguimento ao actual entusiasmo no mercado do LP, um produto pouco difundido no passado, o «box set», objeto luxuoso que pode homenagear um disco que marcou a história da música popular (aumentado de versões diversas e desconhecidas), ou simplesmente a discografia completa de um grupo ou de um artista, se multiplicou de forma significativa. O «box set vinyl» tem uma aparência diferente, ou seja bem mais "glamour", da caixa de CD. E depois, por vezes, permite-nos encontrar as grandes bolachas que vendemos por quase nada em benefício do Cds, no início dos anos 80, convencidos de que a evolução técnica era irreversível. Era esquecer que o homem nem sempre está à procura da última inovação, mas que pode existir um laço afectivo de outro tipo, encravado em nós. 

 "The Twins sofas", Philippe Starck, anos 80's

Um exemplo vem-me à mente, mesmo que nos afaste do mundo musical. Na Europa, por volta de 1985, houve uma onda de design e decoração de apartamento muito techno, como a proposta pelo suíço Philippe Starck. A decoração era bastante minimalista, dominada pelo preto e o branco que cobriam móveis com formas pouco sensuais, com aspecto impessoal, com ângulos marcados, mas onde a curva era discreta. As paredes davam lugar a quadros abstractos, na maior parte das vezes. Uma desumanização, da qual o seu humilde jornalista sucumbiu, por gosto, mas sentindo rapidamente uma espécie de falta, e limites. 


 Apartamento com design bastante comun na Europa, em torno de 1985

 Alguns anos mais tarde, num mundo onde o calor humano também conhecia um arrefecimento climático contínuo, assistiu-se a um ressurgimento dos móveis de madeira rústica, adornados por vezes com falsas patinas criadas no momento. E a luz e a cor voltaram a prevalecer no ambiente. Precisamos também que os objetos nos transmitam conforto, porque afinal vivemos nestes cenários, e a vida não é um filme que acontece em 3025. Este minimalismo e esta frieza, sinónimo de «ser antenado» e a par do que se procura ultimamente, afectava tanto a moda como outros domínios. Tendo trabalhado em galeria naquela época, o conceitualismo, o minimalismo, e outras artes cerebrais eram as obras a possuir. Mas, por volta de 1989, as grandes salas de vendas de arte mundiais assistiram ao regresso do coleccionador à pintura tradicional, ao impressionismo, ao fauvismo, ao expressionismo, restituindo ao humano, um lugar que só queria deixar no tempo de uma experiência. 

Voltando ao post anterior, foi quase por acaso, ao reescrever os 12 álbuns da Siouxsie and the Banshees, que percebi que cada álbum tinha uma capa cheia de vida, no design puro, muitas vezes de cores vivas, quase um paradoxo para uma música escura, muitas vezes tonal, que teria combinado com capas tão lúgubres como a de outro grande grupo gótico, Bauhaus. Siouxsie and the Banshees tinham conseguido unir ambiente glacial com calor de suas belas capas, sem que ninguém comentasse este paradoxo. Por fim, ainda em relação ao post anterior, a impressionante capa de «Claypool Lennon Delirium», sobre duplo vinil rosa, não a torna um disco superior pelo seu belo design iconográfico. Mesmo que, inconscientemente, a embalagem nos influencie, quer queiramos quer não. Não nos iludamos, a música terá sempre a última palavra. 


 "The sky's gone out": Bauhaus




 Capa da obra prima "Juju" de Siouxsie, influência tribal

E quem diz que o ritual que envolve o vinil não terá falta de ar. Acho que ele não vai desaparecer, mas pensar que o MP3 vai dar-lhe espaço é uma doce ilusão. O digital ainda o ultrapassará de longe por razões económicas, mesmo que a venda da música diminua no seu conjunto. Quanto ao CD, não é dito que desapareça, mesmo que a sua venda se desmorone. Não há razão para ele não ter um lugar e cada tributo tem o seu. E quem sabe, não imaginamos a paisagem da audição musical daqui a cinco anos.


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