dimanche 22 septembre 2019

Escutando; Arno/ "Santeboutique"





A única coisa em comum entre o Arno e este blog são as três línguas. Ele não canta em Português, claro, mas ele entrega suas canções em Inglês, Francês, ou Flamengo  as vezes; Ou os três de uma vez. Enquanto estudo uma compilação para um programa especial, eis que acontece o novo álbum de Arno: «Santeboutique». E esta coluna é para todos. Arnold Charles Ernest Hintjens, de seu verdadeiro nome é talvez entre os 10 artistas que simboliza a Bélgica, desde que balançava com seu grupo TC MATIC (de 1977 a 1986), «Oh lalla la», com suas guitarras em lâminas de barbear. Aliás, para aqueles que não o conheceriam. É muito simples. 



A definição de Arno: «um artista belga proveniente dos anos 80». Mas você pensou que eu não iria parar lá. Além de ser belga, é da cidade costeira de Ostende. Ou melhor, Oostende, onde nasceu em 1949. É aqui que o blogger está preso. Oostente é uma cidade cheia de imagens, histórias, atrações artísticas. Oostende, grande porto cuja fealdade é a sua beleza. É o Liverpool inglês, Hamburgo alemão, Le Havre francês, ou o Roterdão holandês. É sobretudo a cidade de James Ensor (1860-1940), o primeiro pintor expressionista mundial (e não, não Van Gogh), filho de Jerome Bosh e de Breughel. É também a cidade de Spilliaert que o cantor cita no glacial e deslumbrante «Oostente boa noite». Este pintor aquarelista e simbolista, tornava esta angústia da solidão com uma frieza que levaria ao suicídio. E essa frieza ainda existe, desde o mês de outubro, hoje em dia. A frustração ganha-me quando falando de Oostende. Arno, é tudo isso. 


 Ostende  by night

O grotesco de Ensor, as festas regionais como o «Baile do rato morto». E os negros e brancos de Spilliaert já estavam nas cores musicais das guitarras estridentes Paul Decoutere e
Frans Van Aerts de TC MATIC. Como assinalei num programa, Oostente, foi também a cidade escolhida por Marvin Gaye para fugir do espectáculo em 1980. Arno tornou-se um companheiro e até um cozinheiro da lenda soul. Os sucessos comerciais de Arno, post Tc Matic limitam-se à Bélgica com alguns títulos cultos Que Bacana (isto é muito bem, ainda somos todos europeus! ), Bathroom singer, Ela adora o preto, Os Olhos de minha mãe, Eu quero nadar, Chique e barato. Especializou-se em aquisições originais e desajustadas de normas francófonas, que lhe abriram um público mais amplo (As Filhas do Mar de Adamo, O Deus Bom de Jacques Brel, Como em Ostende de Jean-Roger Caussimon e Leo Ferré, Elisa de Serge Gainsbourg, Sarah de Georges Moustaki, Pobres diabos (Mulheres) de Julio Iglesias, Knowing me, Knowing you de ABBA, Get up, stand up de Bob Marley e Peter Tosh), Roadhouse blues de The Doors em concerto), até mesmo os dois, o medley Jean Baltazaarr, A filha do Papai Natal/Jean Genie de Jacques David Bowie, com Beverly Jo). Deixando um pouco o inglês ao longo do tempo, a sua música continua a ser uma vasta mistura, o acordeão que acompanha a guitarra eléctrica. É no palco que assume a sua verdadeira dimensão, como testemunham os seus álbuns lives En Concert (à francesa) lançado em 1997 e Live in Brussels em 2005, onde se encontram interpretações de Os Olhos da minha mãe. Amado por um público francês moderno, Arno era demasiado belga para os ingleses, lá encontro Charlelie Couture na obra de Arno ou de Tom Waits. E de Brel, claro. Este diário das pessoas, mas também muito sobre sua própria vida. Sim, é preciso ser belga para compreender Arno a 100%. Mas não para compreender a sua música. Receei que, no seu início, a sua gaguez,a sua dificuldade em procurar as palavras, o desacreditasse aos olhos do público francês. Mas sua música, muito pós punk e seus textos, bem como seu carisma no palco me tranquilizou. E depois, ainda havia aquela imagem dos parisienses do belga próximo do inocente da aldeia. É então que gosto de ter preconceitos ridículos, pois se a França não é, de facto, um país de rock, os seus amadores sabem do que falam. Não foi difícil encontrar o Arno uma noite no centro de Bruxelas. Mesmo de aparência curvada, a sua estatura de um metro e 95, os seus santinhos, vestidos de preto, cabelo pimenta e sal, e noites passadas no bairro dos Halles Saint-Géry, ele era mais dotado de um humor que nem a sua dicção incomodava. Entre os seus 15 álbuns a solo, por vezes irregulares, «Santeboutique» fará parte das suas belas páginas, onde se encontra o rock dos seus primeiros começos que domina (canta», «Lady Alcohol») ou o funk («Flashback blues»), alguns textos «não sense» («Salsichas de Maurício»), sobre o casal patético («Natural», «Santeboutique»), e no final um álbum sem ponto fraco, rock mas produzido para passado no ar, e uma pequena pérola para este ano. ARNO/ «Santeboutique» (Excelente!)

 



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